terça-feira, 28 de julho de 2009

The Grand Circus Rizzaro's Bros.


Um fraque surrado com paetês, uma cartola velha, a (pouca) barba por fazer. Assim eu entro todos os dias no picadeiro do The Grand Circus Rizzaro's Bros. A platéia minguada me olha avançar ao som de uma banda de um homem só, conduzida por mim mesmo diga-se, esperando por alguns momentos de entretenimento pueril. O circo não é isso? Pois é. Então, como mestre de cerimônias eu cumpro meu papel noite após noite após noite após noite, num ad nauseam perpétuo, o show não para. "Respeitável público", brado eu como da primeira vez, em anos que não são mais lembrados pela memória dos homens. Teria sido em Cartago? Creta? Não lembro. O público sempre é respeitável, apesar de toda a indecência intrínseca à natureza humana, isso que nos torna tão pouco... respeitáveis! Mas naquele momento, cada um ganha um sorriso especial, cada um se sente mais do que é, mesmo que essa ilusão seja causada pela expectativa do espetáculo. Os números se alternam, como não temos um grande orçamento, nossa companhia se resume a mim. Sou o equilibrista, o malabarista, o clown, até mesmo o cavalo andaluz (felizmente não posso mais fazer o elefante, dieta...). E o público se encanta, come sua pipoca, ri e sai. Acabou o espetáculo. A noite vai alta e enquanto recolho os pedaços de sonhos descartáveis deixados por minha honesta platéia, cantarolo uma rima antiga que nunca recebeu uma letra, fruto do esquecimento poético dos primeiros poetas, quando o mundo era mais ameno e apenas bastava um "la-la-ri, dum-dum" para expressar a nossa felicidade. "Quanto custa o ingresso para o show" você pergunta. Nada, nunca custou nada. "Mas qual a lógica? O que se ganha para entreter as pessoas? Qual o seu lucro nisso?" indaga-me confuso (ou confusa, lembremo-nos das damas). Nenhum. Não há lucro. Ou melhor, há. Mas não existe um preço no que ganho. O lucro está no baixar das cortinas, ao voltar para o camarim, quando dispo-me de mim mesmo para ser não o mestre de cerimônias, mas apenas eu. Quando minha paga são balas de maçã verde e não tenho que bradar "respeitável público", pois sei que quem agora me observa não precisa dessa adulação ao ego, sabe se respeitar sem que tenham que dizer o que fazer ou deixar de fazer (apesar de infelizmente tentarem insistir). A paga é justamente poder sair por aí e ver o sol nascer, sabendo que é dia e não noite, que a verdade vale mais que a fantasia do picadeiro, que me basta um cão, o sol, um gramado e você, poder rir com sinceridade de coisas absurdas e saber que a velha rima nunca precisou de mais letras do que as que compõem o nome de Deus. O The Grand Circus Rizzaro's Bros abrirá à noite para seu espetáculo habitual, mas enquanto é dia, deixo de lado o fraque e a cartola. Ainda bem. Nunca precisei disso com você.

5 comentários:

  1. Excelente o nível, magnífica demonstração da beleza do bem usar a palavra. Mais, mais, mais...

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  2. O texto é simplesmente excelente.

    Não sei dizer o que exatamente há nele, mas acredito que estas palavras possuem um significado um pouco maior do que expressam.

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  3. Fala Bamboocha
    Show o seu blog
    Forte abraço, cara
    Sucesso em sua caminhada

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  4. Mto legal esse post! Fiquei com vontade de ser inteligente tbm. hauauha

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